quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Primeiro Passo



   
Exibição do vídeo Terpsícore Capillāris com Marcelle Louzada na 13ª edição do Primeiro Passo. SESC Pompéia, dia 1º de setembro às 20hs. Mesa redonda com os artistas na sequência da exibição.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Terpsícore Capillāris




Momento de ações rituais – corpo performático que se repete cotidianamente na improvisação. Corpo que, na ânsia da purificação, se desloca na própria materialização abjeta, na virtualidade da projeção, entre a limpeza da água e a esterilização do sal. Corpo que dança no movimento de eterno retorno, purificação de si na abjeção. Reabsorção o corpo que, caído na exclusão de seu resíduo, veste intimamente o pêlo outrora excluído. Movimento que reaviva a matéria morta, trazendo corpo ao amontoado de organicidade e memória sensorial. Corpo sem órgãos, que se configura apenas no instante virtual de materialização visual da matéria estática, que adquire pele e movimento, se deslocando nos hábitos performativos de higiene cotidianos. Espaço-tempo, experiência ritual tornada arte, no qual a performance corporal assume sua origem primeira da ação colaborativa. Público que se dissolve em co-autor, ocupando espaços ao se portar relativamente em relação a outros corpos, sejam estes sujeitos ou não. Ocupação, doação, troca simbólica corporal que se estabelece na performance artística.





















Não posso mais me referir ao trabalho como meu, há tempos ele já não me pertence mais, agora sou apenas ato. Sou o convite para a explosão de um desejo eminente em sujeitos capazes de sentir na carne a vertigem da morte. Rodopiantes, os corpos se dissolvem na impossibilidade da continuidade do ser.

   
Terpsícore Capillāris, 2010 - Vídeo digital Full HD - 6'34'' min.

Daniella de Moura - cabelos, edição e trilha sonora
Marcelle Louzada - dança
Philippe Lobo - edição, fotografia e trilha sonora

terça-feira, 20 de abril de 2010

as possibilidades de materialização





A arte se inscreve como outra caneta, que como a lei ou a norma materializa os corpos através de suas escolhas reiterativas. A arte, entretanto, não é capaz de produzir uma nova gramática, apenas articula letras e palavras que configuram outra relação de inscrição sobre os corpos. A falta de compromisso com a materialização dos corpos enquanto sujeitos socialmente viáveis é a escolha política que viabiliza a capacidade da arte de materializar os corpos segundo outras gramáticas normativas. Segundo esta ótica fica claro o lugar da arte e sua postura política capaz de materializar corpos socialmente inviáveis, entretanto corpos tais que abrigam sujeitos não construídos socialmente. A impossibilidade da arte de construir os sujeitos juntamente com seus corpos materializados é exatamente a impossibilidade da arte de atuar como transformadora social. As transformações sociais ficam a cargo dos sujeitos, que a partir da tomada de consciência da existência dos corpos abjetos materializados através da arte, modifiquem seus modos e processos de reiteração do discurso normativo que rege a construção se seus próprios corpos. As reações dos sujeitos quando deparados com seu abjeto, fantasma do seu exterior constitutivo, corporificado e encarnado podem ser traumáticas devido à ameaça da psicose. O simbólico deve ser repensado como uma série de injunções normativizantes que asseguram as fronteiras entre o sujeito e seu abjeto. A performatividade estética pretendida com a coleta e a re-significação simbólica dos cabelos é a materialização artística da abjeção corporal através de um processo performativo. O objeto materializado performativamente na obra de arte é a partilha do sensível enquanto corpo, uma melancólica alusão ao corpo abjeto social incapaz de se materializar como sujeito.


quinta-feira, 11 de março de 2010

as trocas simbólicas



Erótico ritual que demanda o corpo alheio no meu corpo morto. Obra de arte estabelecida através do ritual, ato solene de vestir uma calcinha de cabelos. Onde mora a essência da arte em um mundo desacralizado como o nosso? Onde reside o ritual verdadeiro de comunhão entre os seres, para além das dinâmicas doutrinantes e assépticas das igrejas e templos religiosos? Onde se encontra a potência da vida, de sentir a vida iniciada na pulsão de sua fragilidade, na eminência da morte? Em um mundo desacralizado, onde o ritual foi burocratizado pela instituição religiosa, que rege com força política o ímpeto de transcendência e segrega a morte da vida, procuro corpos capazes estabelecer uma verdadeira troca simbólica. Como encontrar pessoas dispostas ao retorno sacro da experiência primitiva do ritual abjeto? Muito além do fetiche da moda e da perversão da pornografia comercializável, a obra-proposta-ação está ligada ao ato pelo desperdício, gratuidade do gesto pela simples possibilidade de fragilização psíquica do ser. A obra além do objeto calcinha de cabelo, do fetiche, da obra passível de troca econômica e agregação de valor cultural, obra que não reside na coisa, mas no ato, na dissolução do lugar-comum pela busca da experiência sensitiva. Busco pessoas dispostas a completar minha pulsão de troca pela própria impossibilidade da troca. Eu, ser descontínuo, solitário e sensivelmente carnal, busco o contato com o outro através daquilo que um dia foi o meu corpo, foi o meu sujeito perante a sociedade, foi parte do meu desejo. Preciso sentir a potência da vida através da vertigem de morte que pode residir na arte, ritualizo meu corpo e suas funções, minhas escolhas artísticas buscam a dissolução das mentiras de minha própria psique prega em meu sujeito. No ritual solenemente solitário desconstruo os sonhos da continuidade no outro. O desejo pelo outro se dissolve na minha carne viva, sensível e pulsante. No ritual de cortar os cabelos, de vestir os cabelos, de manipular, tecer, adornar e resguardar os restos corporais, compreendo a sacralidade da vida em sua própria descontinuidade flutuante entre tantas outras descontinuidades semelhantes. Sozinha percebo o meu corpo pelo seu resto, o meu sujeito surgido da primitividade da matéria morta, abjeta, abjetada, doada pelo outro, na vontade de existir simbolicamente para além do momento, da consciência e do corpo vivo. Ritualizando a separação e o retorno do abjeto compreendo o simulacro do meu sujeito, que se desintegra na essência da própria matéria, em algum ínfimo estado de consciência atinjo o sublime, no mesmo instante mortífero que me perco do sujeito. Corta os cabelos e vestir os cabelos são rituais capazes de dissolver meu sujeito, por apenas um instante, pelo retorno ao abjeto caído para sua construção. Me perco na abjeção, na essência fundamental do tato e da carne, na abjeção, para encontrar contraditoriamente o seu duplo, o sublime. Epifania existencial manifestada pelo limite do contato ritualístico com o abjeto. Retorno ao primitivo, ao anterior ao sujeito, pré-simbólico, onde todos os corpos se igualam pela matéria em transição, da vida até a morte, um instante de um jogo erótico que envolve e todos os seres existentes, vivos e mortos. Consciência pela perda de controle da própria consciência. Desejo, acima de tudo para com o outro, proporcionar a possibilidade de uma epifania semelhante, pela troca de papéis corporais, territórios recombinantes de sensações capazes de deslocar o sujeito. Desejo meu, erótico, de troca corporal, troca de estabilidade por epifania sagrada, individual dissolvido da coletividade da pulsão de vida, de experiência do estado sublime do corpo constituído, agora, juntamente com o seu abjeto e o abjeto do outro, matéria pela matéria, perda do sujeito pela experiência da condição sublime de corpo vivente.


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Renata Lobato

















Esperava. Era como se todos os dias tivesse a oportunidade de ter-lo. Mas só teria a seus cabelos. Se vestia deles, como se vestisse ao próprio poder que um dia ele lhe havia dado. Provocando-lhe a vagina, seus cabelos eram como um incomodo suave, daqueles que precisavam todas as mulheres que bebem poder. Estavam ali, reunidos, mais de vinte guerreiros mortos. Todos. Somente naquela peça que cobria o rosado membro. Vestiu-os. Um a um. O negro guerreiro massai. O cabelo tupi Guariní. Os restos ainda amarelos de Sláine. Ali estavam suas armas, seus troços, seus falos, seus pelos. Tomou um pouco de vinho, como se iniciasse a cerimônia. Vestiu o branco. E se pos a imaginar. Aqueles arabescos todos. As tranças e os enredados que havia criado. A mucama perfeita se sentava à mesa com todos os espíritos. Armou-se de desejo. Vestiu um pouco mais de fio que havia lhe sobrado da veste anterior. Com os curtos pelos dourados de Moisés, acariciou o seio. Desceu até o pubis.

Dali deixou derramar um pouco de si. Encolheu os olhos, em reverência. Escolheu a cama, deixando repousar um pouco do que lhe havia sobrado. Todos os karmas lhe cabiam nessa hora. Mas só sentiu a Zeus, tocando sua displicência. Agradeceu e fechou os poucos pelos que lhe restavam nas pálpebras. Dormiu. O sono que lhe podiam roubar os mais calvos espíritos.


Vestir o outro é uma forma de poder. Aqui estou eu, dentro dessa intimidade que um dia foi testemunha de um segredo, uma fresta do mais particular que se pode guardar de outro. Orgânico, meu corpo se fez outro, se fez parte e se apropriou do que não era meu. Eu era parte de um espírito que caminhava entre ar e pelo. Dizem que cabelo é proteína, mas algo ali me dizia sou mais que isso. Não era cor, era elevação. Era um jogo entre o que não era meu e o que eu apropriava. Histórias que eu não pude contar me serviam para uma nova narrativa. Sim, eu tinha a varinha, o tear e a nova descrição. Era eu e era o outro que me servia. Uma forma de poder incômoda e deliciosa, especialmente porque me lembrava de quando não sou.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Mostra Coletiva Olheiro da Arte



vista meus cabelos, 2009
10 ampliações fotográficas 30x40cm

Entrevista na rádio UFMG sobre a Mostra Coletiva Olheiro da Arte, 01 de Março de 2010: