terça-feira, 20 de abril de 2010

as possibilidades de materialização





A arte se inscreve como outra caneta, que como a lei ou a norma materializa os corpos através de suas escolhas reiterativas. A arte, entretanto, não é capaz de produzir uma nova gramática, apenas articula letras e palavras que configuram outra relação de inscrição sobre os corpos. A falta de compromisso com a materialização dos corpos enquanto sujeitos socialmente viáveis é a escolha política que viabiliza a capacidade da arte de materializar os corpos segundo outras gramáticas normativas. Segundo esta ótica fica claro o lugar da arte e sua postura política capaz de materializar corpos socialmente inviáveis, entretanto corpos tais que abrigam sujeitos não construídos socialmente. A impossibilidade da arte de construir os sujeitos juntamente com seus corpos materializados é exatamente a impossibilidade da arte de atuar como transformadora social. As transformações sociais ficam a cargo dos sujeitos, que a partir da tomada de consciência da existência dos corpos abjetos materializados através da arte, modifiquem seus modos e processos de reiteração do discurso normativo que rege a construção se seus próprios corpos. As reações dos sujeitos quando deparados com seu abjeto, fantasma do seu exterior constitutivo, corporificado e encarnado podem ser traumáticas devido à ameaça da psicose. O simbólico deve ser repensado como uma série de injunções normativizantes que asseguram as fronteiras entre o sujeito e seu abjeto. A performatividade estética pretendida com a coleta e a re-significação simbólica dos cabelos é a materialização artística da abjeção corporal através de um processo performativo. O objeto materializado performativamente na obra de arte é a partilha do sensível enquanto corpo, uma melancólica alusão ao corpo abjeto social incapaz de se materializar como sujeito.