quinta-feira, 15 de setembro de 2011

veste de corpo




A iniciação consiste na instauração de uma troca, é um evento simbólico do nascimento e da morte iniciáticos, percurso da vida e da morte para entrada na realidade simbólica da troca, momento em que o iniciado se torna um verdadeiro ser social perante o grupo. A prova iniciática não introduz um segundo nascimento ou uma teatralização da morte. A iniciação não joga a vida contra a morte rumo a um renascimento, é o esfacelamento do nascimento e da morte que a iniciação conjura. Essa operação simbólica não pretende superar a morte, mas promover sua articualção social, num contexto de troca entre os ancestrais e os vivos, em lugar de uma separação instaura-se uma relação social entre os parceiros. A morte natural, biológica, aleatória e irreversível passa então para uma morte dada e recebida, reversível na toca social. A oposição entre nascimento e morte desaparecem, eles podem trocar-se sob as possibilidades de reversibilidades simbólicas.






Na tentativa de buscar uma forma de esfacelamento da realidade corporal, lancei mão do imaginário da criação, oposição poética que promove o simbólico através do ritual artístico-iniciático. A deposição capilar permitiu a troca simbólica através dos cabelos, objeto sacrificial que morre na cabeça e renasce na vestimenta. A perda capilar permite a troca simbólica com todos aqueles que também sacrificaram seus cabelos, incluindo os enfermos, os mortos e os doadores de matéria prima artística. A troca estabelece-se também pelo ato de vestir com cabelos a púbis cabeluda, eu visto e o outro veste, através de rituais individualmente inventados pela sensibilidade poética de cada corpo que se propõe a agregar mais cabelos aos seus, trocamos simbolicamente vida e morte.