sábado, 23 de maio de 2009

Arachne




Arachne era uma iniciada na arte de tecedeira em que se tornara incomparável. A sua fama ia tão longe que as ninfas das montanhas e dos rios da Frígia e da Lídia saíam das grutas onde habitavam para vir admirar os seus trabalhos, e era tão perfeita a tecer que se dizia ter sido ensinada por Palas Athena. Arachne, tão hábil a tecer como orgulhosa, detestava que a considerassem discípula de Athena, pois entendia que os segredos da sua arte de ninguém os aprendera e só a ela mesma os devia, e um dia ousou desafiar a própria deusa: «Que venha competir comigo, disse, a tudo me submeterei se for vencida!» (Ovídio 1961, VI, 25). Athena tentou dissuadi-la, mas Arachne, ousada e insubmissa, persistiu, e por fim a deusa, irritada, aceitou disputar com ela a prova de quem haveria de tecer a melhor tapeçaria. Arachne ilustrou em expressivas imagens o assédio sexual de deuses machos às mortais desprevenidas, a algumas ninfas e até a divindades, como por exemplo Júpiter disfarçando-se de touro para raptar a jovem Europa, de cisne para cativar Leda, de sátiro para violar Antíope, de serpente para penetrar Prosérpina e de ouro para seduzir Danae. O trabalho de Arachne era tão perfeito que a deusa não suportou a afronta da terrível acusação, que ultrapassou os limites da impiedade: era o grito da iniciada que não tolera o ultraje à sua essência de ser humano e sobretudo de mulher. A deusa Athena em cólera despedaçou a tapeçaria de Arachne onde os divinos e nefandos crimes se exibiam, e bateu-lhe no rosto, três ou quatro vezes, com a lançadeira que tinha nas mãos. Arachne desesperada correu a enforcar-se mas, no momento em que se suspendeu, Athena impediu-a de morrer — e transformou-a em aranha, suspensa pelo fio.


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